Parente de técnico de vôlei dos EUA é assassinado em Pequim
Jornal Estado de São Paulo – 9 de agosto de 2008
A notícia acima foi destaque nos principais jornais e TVs do mundo inteiro no dia nove de agosto, dia da abertura dos jogos olímpicos de 2008. A notícia relatava que dois turistas americanos, parentes de um membro da comissão técnica do vôlei masculino dos EUA, haviam sido esfaqueados por um chinês no centro de Pequim. Um deles havia morrido e outro estava internado em estado grave. Além do ataque aos americanos, os jornais mencionaram ainda que as autoridades tinham afastado a possibilidade de ato terrorista, e que o comitê olímpico e a embaixada americana estavam oferecendo todo apoio a família e a equipe de vôlei.
Do outro lado do mundo, porém, na cidade americana de Minneapolis, a manchete nos jornais era outra:
Presidente da Bachman’s foi morto, e sua esposa ferida em um ataque em Pequim ( “Bachman’s CEO killed, wife injured in Beijing attack”)
Jornal Star Tribune, Minneapolis, EUA – 9 de agosto de 2008
A reportagem do jornal local relatava o ataque a Todd Bachman, presidente da Bachman’s Inc., a empresa local que produz e comercializa arranjos florais, e o choque da família, dos 1500 empregados da Bachman’s, e dos muito amigos que Todd tinha na comunidade local. Todos entrevistados, afirmavam que Todd Bachman, líder da quarta geração da família Bachman no comando da empresa, era muito carismático, querido e respeitado.
Um mesmo fato, dois enfoques completamente diferentes!
Porém, nas duas reportagens fica evidente o choque e a surpresa de todos diante deste acontecimento tão improvável!
Ao descobrir que Todd Bachman era o principal executivo (CEO), o presidente do conselho de administração, e um dos sócios de uma empresa familiar, eu, consultor de famílias empresárias, fiquei curioso: “Será que eles teriam algum plano de sucessão ou de contingência pronto para ser utilizado em situações inesperadas ou improváveis como esta? Ou será que além de planejar o funeral de Todd, teriam também que pensar na sucessão da empresa?”.
Em muitas empresas familiares que conheço, onde as decisões e as competências-chave estão muito centralizadas nas mãos do presidente ou de poucos donos, um evento como este colocaria em risco a sobrevivência do negócio. Com base em minhas experiências e pesquisas sobre o tema no Brasil, posso afirmar que são poucos os empresários que chegam a elaborar qualquer tipo de “plano B”.
Em uma pesquisa que conduzi recentemente com mais de 200 empresas brasileiras, constatei que apenas 34% possuíam algum planejamento para a sucessão do patrimônio da família, e menos da metade haviam definido regras ou critérios para a sucessão CEO.
No caso da Bachman, a família, naturalmente, estava de luto e triste, mas os negócios foram preservados e não sofreram qualquer abalo ou interrupção.
Eles tinham não só um “plano B”, mas também o “C” e o “D”!!
Logo após o ataque, Dale Bachman, um dos três primos de Todd que participam da gestão da empresa, convocou uma coletiva de imprensa para tranquilizar fornecedores, clientes e funcionários, e falar da continuidade da empresa diante da ausência de Todd.
“Estamos utilizando o mesmo sistema que permitia que Todd ou que qualquer outro executivo da Bachman viajasse ou tirasse férias. Este sistema envolve toda a nossa organização, mas principalmente o comitê executivo, um grupo composto por seis pessoas, representantes de todas as áreas de negócio de nossa empresa, que se reúne regularmente e monitora nosso desempenho e nossos principais projetos.” – Dale Bachman
“Em relação aos acionistas da Bachman’s Inc., não haverá nenhuma confusão. Há vários anos, meus pais e tios, membros da terceira geração, fizeram um grande esforço de pensar e planejar detalhadamente a sucessão de nossas ações e de nosso patrimônio, não só da terceira para a quarta geração, mas também da quarta para a quinta e da quinta para a sexta geração. Hoje, com o falecimento de Todd, temos acionistas da 6ª geração: os netos de Todd.” – Dale Bachman
Certamente, ao longo de seus 123 anos de existência, a empresa Bachman’s Inc. vivenciou várias sucessões, algumas difíceis e conflituosas, outras menos dolorosas e mais suaves. Provavelmente, foi essa vivência que conscientizou a família Bachman sobre a importância de refletir e planejar a sucessão, não só das ações ou quotas da empresa, mas também da liderança da gestão e dos valores familiar. E foi este planejamento que esta permitindo, neste momento que a empresa continue suas atividades normalmente e que a família possa se preocupar com o funeral de Todd, e com a recuperação de Barbara, ao invés “pensar”, com as emoções a “flor-da-pele”, sobre a sucessão da empresa.
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