Entre janeiro de 2006 e outubro de 2007, 86 empresas abriram o capital e listaram suas ações na BOVESPA. Estima-se que cerca de metade dessas empresas eram de controle familiar. Mais empresas familiares abriram o capital nestes últimos dois anos do que em todos os quinze anos anteriores somados.

Obviamente, abrir capital traz inúmeros benefícios para a empresa familiar. Citarei aqui alguns dos principais: maior acesso a capital para financiar o crescimento da empresa; liquidez para os acionistas da família controladora que queiram vender suas ações; maior visibilidade para seus produtos e aumento de sua reputação; maior atratividade para recrutar executivos profissionais; maior disciplina na elaboração e apresentação dos resultados da empresa, exigida pelos órgãos reguladores do mercado e pelos acionistas minoritários; maior transparência perante todos os sócios, familiares ou não.

Porém, além de benefícios, existem, também, custos associados a manter uma empresa de capital aberto: honorários pagos à auditoria externa e consultores, custo de publicação de balanços e outras informações, custo de contratar e manter uma diretoria de relacionamento com o mercado, entre outros. Esses custos costumam variar de um a dois milhões de dólares por ano.

Existem, também, outros custos e riscos adicionais, difíceis de se mensurar, que são potencialmente maiores que os custos tangíveis citados anteriormente. Aqui, citarei alguns:

Primeiro: a divulgação de informações sobre o patrimônio, remuneração e nomes dos sócios da família controladora da empresa. Essa publicidade traz riscos não só a segurança física desses sócios e seus familiares, mas também, ao vínculo emocional que estes têm com as pessoas de seu convívio social, que poderão sentir-se ressentidas, ou ainda incomodadas, com o “súbito enriquecimento” da família. Vale notar aqui, que a idéia de “súbito enriquecimento”, muito comum, é uma falácia. O patrimônio – a empresa – já existia antes. O que, normalmente, não existia antes era a “etiqueta” com o “preço” da empresa visível para que todos pudessem saber o quanto ela valia.

Segundo: o impacto psicológico que a divulgação do valor do patrimônio da família pode ter sobre seus membros. É um desafio evitar que isso atrapalhe a educação da próxima geração, ou ainda, lidar com os impulsos de consumo de alguns dos membros da família. A verdadeira riqueza da família empresária não está só na empresa ou em sua conta bancária, mas também na determinação, no trabalho e no cuidado que os fundadores e seus sucessores tiveram com o negócio que sua família criou. Se os sócios atuais não conseguirem transmitir esses valores e essa riqueza intangível aos seus sucessores, o futuro patrimônio tangível também estará sob risco.

Terceiro: a maior transparência. Concorrentes, fornecedores, clientes, sindicatos, entre outros, que antes tinham acesso limitado às informações estratégicas de sua empresa, também passarão a ter acesso aos dados financeiros e mercadológicos – como margens, estrutura de custos, volumes, entre outros – que são compartilhados com os analistas do mercado financeiro.

Nestes tempos de elevada liquidez nos mercados financeiros, os benefícios da abertura de capital têm sido amplamente alardeados, mas os malefícios pouco discutidos. Meu objetivo com este artigo foi ressaltar que nem tudo são flores em uma abertura de capital. Essa alternativa pode ser muito interessante para algumas empresas, mas pode não ser adequada para outras. Se sua empresa está considerando essa alternativa, deve considerar seus benefícios e malefícios e, caso siga adiante com o processo, preparar-se adequadamente para seus desafios e riscos.

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